A Casa de Angola tem hoje um alargado conjunto de sócios com grande qualidade técnica, profissional e humana. É com esta força que sentimos que é chegado o momento da Casa de Angola desenvolver uma estratégia global, capaz de apontar e alicerçar respostas alternativas integrantes e integradas, com propósitos muito claros: criar uma percepção da Casa de Angola positiva, a execução de uma política de proximidade com a diáspora, com fortes preocupações sociais, apoio jurídico, saúde, divulgação da cultura angolana.

Memórias

Visita de S.E. Srº Embaixador da República de Angola, Srº Profº Drº José Marcos Barrica  e S.E. Srª Consul Geral da República de Angola em Lisboa, Srª Drª Cecilia Baptista ao Espaço Cultural e Gastronómico Angolano na Casa de Angola

 

“Uma Vez Atlético, Sempre Atlético” 


DEMÓSTHENES DE ALMEIDA CLINGTON

          Demósthenes de Almeida Clington um homem natural de S. Tomé, que foi ao longo da sua existência ( 1898-1973 ), um exemplo de dedicação á prática e ensino do Desporto, de uma forma vincadamente humanista, de que resultou que muitos dos seus discípulos ficassem para todo o sempre, marcados pelo seu exemplar comportamento cívico.
         Demósthenes de Almeida, o “Grande Patriarca”, como lhe chamou o jornalista angolano Luís Alberto Ferreira, deixou a sua terra natal com apenas dois anos de idade, fixando-se em Lisboa onde fez os seus estudos, e se iniciou na prática do desporto. Foi juntamente com seus primos Pedro e Pascoal de Almeida, campeão de atletismo em Portugal, cotando-se os primos Almeida como dos melhores atletas do seu tempo.
         Voltou a S. Tomé em 1922-23 tinha 24 anos, acabando por se fixar definitivamente em Angola no ano de 1923, onde ao longo de cerca de cinquenta anos foi o grande obreiro de uma plêiade de atletas, alguns dos quais foram até Portugal, passeando pelas pistas dos estádios a classe e a postura que o “mestre” lhes ensinara.  Juntamente com um desportista de Moçâmedes (Namibe), Luís da Câmara Pires, ao serviço do Clube Atlético de Luanda, idealizaram e puseram em execução em 1953 a famosa “Corrida de S. Silvestre” em Luanda cuja organização coube ao Clube Atlético de Luanda, até à edição de 1975.
          O antigo primeiro-ministro da República de Angola Dr. Fernando França Van-Dúnem, ex-discípulo do “mestre”, sintetizou assim a sua postura – “...Demósthenes de Almeida era possuidor de uma vasta cultura que lhe permitia ver o Homem para além do Desporto...”.
          Por sua vez o Dr. Roberto de Almeida presidente da Assembleia Nacional da República de Angola, referindo-se ao nosso “mais velho” escreveu - “...as suas mãos moldaram gerações de jovens que, pelo brio e afinco com que participaram em diversas competições nacionais e internacionais, contribuíram para erguer bem alto o nome de Angola. Muitos desses jovens rumaram para outras paragens e desfilaram garbo e aprumo em pistas e estádios nunca imaginados; “velho Demo”, como era mais conhecido, pessoa de trato afável, de têmpera estóica e persistente, soube inculcar em humildes estudantes e operários, vivendo na sua maioria em condições difíceis nos muceques de Luanda, a vontade de romper preconceitos, o orgulho de ser angolano, a determinação de vencer...”.
          Carlos Aniceto Vieira Dias “Liceu”, pioneiro da música angolana e também ele antigo pupilo de mestre Demósthenes, referindo-se ao seu antigo treinador afirmou em 1990 – Sobre o nosso “cota” o que posso dizer, é que foi o nosso “pai”, e por isso temos que saber respeitar a sua memória.
          O embaixador Hermínio Joaquim Escórcio, também antigo dirigente do Xlube Atlético de Luanda, sobre o clube de Demósthenes de Almeida, afirmou – “A maior parte dos dirigentes do País, passou pelo Clube Atlético de Luanda, que antes de mais era o clube da “malta”. Era um clube muito pobre, mas muito nosso. Tínhamos a maior honra em pertencermos àquele clube. Vínhamos de todos os lados – da Maianga, do Sambizanga, Ingombotas, de todos os lados, mas apesar disso sentíamos uma grande identificação entre todos nós”.
         O escritor e poeta angolano António Cardoso foi um dos inúmeros jovens que passaram pelas fileiras do Clube Atlético de Luanda, e consequentemente pelas mãos de Demósthenes de Almeida. Solicitado a dizer o que tinha sido para si a figura do “velho Demo”, afirmou em 1988 em Luanda – “ No campo do Desporto, Demósthenes de Almeida terá sido de entre todos os que se dedicaram em absoluto ao fenómeno desportivo, o que melhor soube articular o binómio socio-desportivo no seio de uma juventude subordinada aos ditames da repressão colonial. Da mesma forma que elevava os nossos jovens aos maiores feitos desportivos, conseguia igualmente fazer de cada um deles verdadeiros homens de fibra, aptos a enfrentarem o inimigo comum, o colonialismo português. Quem foi seu discípulo poderá orgulhar-se da formação de angolanidade que era uma constante do trabalho de Demósthenes de Almeida. Não é por acaso que eu, o Luandino, o embaixador Domingos Van-Dúnem, o Paulo Saldanha Palhares; Couto Cabral, Amadeu Amorim e Nino N’dongo, o José “Mudo” (Vieira Dias), o Lincoln de Carvalho, o França Van-Dúnem, que foi primeiro ministro, O presidente da Assembleia Nacional Roberto de Almeida, o Alcântara Monteiro, o Armindo Fortes, o “Maninho” (Germano Gomes), o França Van-Dúnem, a Helena e o Alfredo Melão,  o Aristides Van-Dúnem, o Lopo (Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento), o Flávio Flores, o general Benigno Vieira Lopes “Ingo”, o “Manguebo” (Flávio Figueiredo), a heroína Irene Cohen, o “Liceu” (Carlos Aniceto Vieira Dias), o Sérgio Fernandes dos Santos, a Elsa de Almeida e Sousa “Caximbinha” e os irmãos Almeida e Sousa, o Catiana, o Jaime Araújo, o Mário Simões Torres, o Guilherme Lima “Bacalhau”, o Carlos “Belli-Bello”, o “Pepsi-Cola” (Nando Vieira Dias, o “Piscas” (Carlos Alberto Videira Antunes) que jogou futebol na Académica de Coimbra, o António Júlio Carpinteiro, o pintor Eleutério Sanches, o Oliveira e Silva, o Isidro Ferreira Louro “Fiambre”, o Júlio Pereira “Jingongo”, os manos Vieira Dias (Ménio e Gi), o Gastão Augusto, o Rui, a Amélia, a Júlia, o Zé, o Xico, o Hélder, o André, o Avelino (Saidy), enfim toda a família Mingas pois o “velho” André Mingas também foi pupilo do “velho” nos anos trinta; os manos Boavida (Américo e Diógenes) e anos antes o pai deles (Fernando Boavida), os próprios filhos e netos do “velho Demo” foram seus pupilos. Isto só para referir uns tantos, alguns dos quais foram elementos ligados ao sector intelectual angolano...”. Recentemente já na recta final para a Dipanda, foram discípulos de Demósthenes de Almeida, algumas das mais conhecidas figuras da sociedade angolana, casos de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandô”, Eduardo Africano, João de Almeida Teixeira, Domingos Júnior Capindiça, David Melanchton, Daniel Assondatia Necongo, Abílio Pinto Alexandre, Jaime Jerónimo Leal Monteiro, Carlos Teixeira (que vinha do Porto Amboim a Luanda para representar o Atlético; José Diungo, Álvaro Gouveia Leite, José Manuel Lisboa, Abel Filipe Moreira de Carvalho, Luís Gonzaga Mateus Guimarães “Leiteiro”, Justino Sengue, Horácio Juventus, manos Dupret, Jorge Manuel Ferrão Grave, Adolfo Pinto João, Jorge Rodrigues, Fernando Manuel Carneiro Martins “Nanico”, Eduardo Nascimento, Fernando Raposo Pombeiro, Jacob João Caetano, Carlos Gentil Pinto de Andrade, Jorge Miguel, Aníbal Santos, manos Mangueira, Eugénio de Almeida Pederneira, Fernando Francisco Feliciano, Eva Costa, Maria Rosa de Almeida Fonseca, Luís Azevedo, José Alberto Pinheiro de Magalhães, José Felgueiras, Ana Veríssimo da Costa, Hugo Manuel Galiano Vaz Pereira, José Palhoto, António José Melo, João Silva, Manuel Pascoal, Fernando Tavares Alves, os manos Pinto Pereira, Carlos Queiroz, Daniel Firmino, Manuel Pombal, Orlando Cames Esteves, Fernando Gomes, Victor Hugo Alves de Carvalho, Raúl Ramalhoso, Fernando Pinheiro Milheiro, Elias do Nascimento, Sebastião Ventura da Silva, Filomeno Fortes, Raúl do Couto Cabral, Fernando de Jesus Leitão Coelho Fortes “Kilombelombe”, Miguel da Cunha Junqueira Neto, Agostinho Manuel Buta, António Adão “Papá”, Joaquim Amador Gonçalves Paulo, Avelino e Manuel Soares da Silva “Nelito Soares”, Santana Carlos, António Figueira, António Santos “Zarga”, Pedro Resende da Costa Martins, João Manuel Milagre, Job Francisco, manos Guerra, António Augusto Afonso Braga, José Adelino Barceló de Carvalho “Bonga”, João Figueira, Jacques Gomes, Dário Tavares Ferreira, Daniel Ferreira, António Bonito Manuel, Leonel Durão, Augusto de Castro Fernandes,  Carlos Alberto de Melo Xavier, Avelino Neto, Domingos Manuel Mateus, Júlio Mouzinho, Henrique Anapaz Pereira e tantos outros.
Henrique Mota






"Rindo com Mário - Viriato!


VERSOS...?
QUE GRAÇA!

 PALAVRAS BOAS OU MÁS?
TODOS AS DIZEM...
QUALQUER UM AS FAZ.
NEGAM?
É POESIA -ZÁS, TRÁS, CATRAPAZ!
NEGUEM SE VOS APAZ...
                                                                  
   Gentil Viana/África anos 60    
Antigo dirigente da Casa dos Estudantes do Império





Antonio Cardoso- poema






































Antonio Cardoso manuscrito





Antonio Cardoso manuscrito




 CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL (1962 – 1974) 

“...Falar do Tarrafal ou de outras prisões fascistas não deve ser uma simples evocação daquilo que por lá passámos. Ao falar do Tarrafal e das outras prisões importa, em primeiro lugar, saber que elas existiram porque existiu o fascismo. Elas são uma consequência directa do regime de terror que durante 48 anos massacrou o nosso povo e colocou o nosso país na cauda das nações civilizadas...”.
(Palavras do falecido comunista português João Faria Borda, um lutador pela liberdade que passou 16 anos e 3 meses no Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde).

“...Era tudo muito seco, árido. Aquela montanha à volta, aquela planície, só com umas árvores muito esqueléticas, raquíticas, todas inclinadas para o mesmo lado, porque o vento as obriga. O Tarrafal tinha o fosso e os arames farpados. Agora tem uma muralha, foi construída mais tarde. E havia umas guaritas nas esquinas, onde ficavam os guardas. As casernas eram o que existe ainda hoje, toda aquela estrutura foi a construída pelos presos portugueses nos anos 30. Ficou tudo, a central de energia eléctrica, tudo o quanto eram postes já enferrujados, comidos pelo tempo, as casas tinham um aspecto muito decrépito, a secretaria era uma casinha de madeira assente em pilares.  Vínhamos de uma terra em que a vegetação é exuberante. Chegar ali e ver aquilo tudo seco...”.
(Palavras do angolano Luandino Vieira, que esteve preso no Tarrafal cerca de 10 anos) 

 “É instituído em Chão Bom um campo de trabalho”
(Diário do Governo - Portaria nº 18.539 de 17 de Junho de 1961)
                                                         Dr. Adriano Moreira - Ministro do Ultramar

          A 17 de Junho de 1961 o ministro Adriano Moreira despacha por portaria a reabertura do famigerado Campo Concentração do Tarrafal. 
          Aberto numa primeira fase de 1936 até 1954, o tristemente conhecido “Campo da Morte Lenta” recebeu durante cerca de 18 anos, centenas de presos políticos portugueses, maioritariamente comunistas e anarquistas. Durante este período perderam a vida 32 presos políticos, de entre os quais Bento Gonçalves (secretário-geral do PCP de 1929 a 1942) e Mário Castelhano, anarquista e antigo dirigente da CGT. O Campo ficava na periferia da povoação do Tarrafal na ilha de Santiago em Cabo Verde (na parte oposta à cidade da Praia).
          A reabertura a partir de 1961 do famigerado Campo de Concentração foi a forma encontrada pelo regime colonial português para mais facilmente manter num quase total anonimato centenas de patriotas africanos que lutavam pela libertação dos seus povos, caídos nas garras da polícia política portuguesa (PIDE/DGS).
          Na segunda metade da década de cinquenta, o rápido desenvolvimento dos ideais libertários nas colónias portuguesas, nomeadamente nas africanas, levou à instalação nestas colónias de delegações da polícia política, o que motivou o endurecimento das acções repressivas.
          Embora clandestinas, as actividades políticas passaram a ficar mais vulneráveis e as cadeias começaram a encher-se.
          Em Angola, o chamado “Processo dos Cinquenta”, desencadeado em 1958 em Luanda foi o resultado da mais “frutífera” acção repressiva da PIDE. As autoridades coloniais estavam deveras preocupadas com o desenvolvimento do nacionalismo o que de alguma forma terá “justificado” a forma terrorista como tentaram resolver o problema laboral da Baixa de Cassanje, eliminando a “bombas de napalm” milhares de agricultores e famílias. 
          Inicialmente (1958-1961) pretendeu-se dar a ideia de que os africanos tal qual os naturais do “puto” eram iguais em direitos, pelo que aos detidos por motivos políticos era simulada a condenação dos implicados num arremedo de justiça, com julgamentos em Tribunais Militares, mas tal procedimento foi “Sol de pouca dura”. Mesmo assim o “sistema” não funcionava como o previsto pelo que a polícia política depressa descobriu outra forma de se desenvencilhar dos presos políticos mais mediáticos. Aos presos políticos, a exemplo do que acontecia em Portugal, eram-lhes arrancadas “confissões” a ferro-e-fogo, e os corajosos advogados de defesa ficavam reduzidos a meras figuras decorativas num processo todo ele viciado, onde os resultados eram cozinhados nos gabinetes do “Hotel Angola” (sede da PIDE em Luanda). A dada altura, a PIDE passou a poder aplicar “administrativamente” a “fixação de residência” para qualquer lugar do espaço nacional. Assim a polícia política depois dos habituais “tratamentos” numa qualquer pocilga prisional passou a “fixar residência” aos presos políticos africanos, e o “Campo de Trabalho de Chão bom” era um dos pontos “turísticos” escolhidos. Mas nem todos eram detidos e a onda nacionalista foi aumentando à medida a que o tempo passava. Conspirava-se por todo um lado, por vezes de forma pouco cuidada.
           Vivia-se nomeadamente na capital da colónia, entre a comunidade africana momentos de grande incerteza; as rusgas desencadeadas com rara violência nos muceques pela polícia, reduzia a dignidade dos africanos a zero. 
          Estávamos perante uma panela de pressão prestes a rebentar.
          O ano de 1961 foi por assim dizer o corolário da explosiva situação vivida em Angola, com as autoridades policiais a desempenharem um papel cada dia mais desumano. “Já viram isto? O preto já não tem respeito!” Diziam os colonos. Uma simples contestação era motivo para que fosse desencadeada sobre o comum do cidadão a mais brutal das repressões. O “reguila” sendo branco, podia ser detido, mas por “princípio” era “marcado” e seguidos os seus passos para futura análise ao seu comportamento. Se o “infractor” era “calcinha” (negro ou mestiço), quase sempre era detido, apanhava porrada e por vezes “sumia”; para sair de uma situação destas, era uma “maka” dos diabos. 
          Quantos africanos desapareceram sem deixar rasto? Quantas viagens clandestinas terão determinados aviões feitas ao largo da costa atlântica, despejando carga incómoda? 
          Para a estrutura colonial, a vida de um negro não valia rigorosamente nada.
          O 4 de Fevereiro de 1961 em Luanda teve de entre os seus objectivos, a libertação dos presos políticos encerrados na Casa da Reclusão (ao Bungo), onde se encontravam os implicados no famoso processo. O desencadear desta acção revolucionária apanhou o aparelho dirigente da colónia desprevenido, e para além das mortes causadas durante os confrontos verificados, esta acção nacionalista provocou encherem-se as várias prisões angolanas. Dos milhares de elementos aprisionados inicialmente, muitos foram abatidos sem que as famílias tivessem do facto qualquer informação. 
          A Casa de Reclusão Militar, cadeia de S. Paulo, cadeia comarcã de Luanda, S. Pedro da Barra, Missonbo (criado a 24 de Agosto de 1961), Colónia Penal do Bié, S. Nicolau, Baia dos Tigres e outros depósitos prisionais, deixaram de poder dar resposta às crescentes “levas” de prisioneiros que diariamente eram para aí encaminhados. Mas para as autoridades coloniais os elementos envolvidos no “Processo dos Cinquenta”, por demasiado conhecidos não podiam ser facilmente eliminados, daí a necessidade de os remeterem para longe de familiares e amigos. 
          Surgiu assim a necessidade de reabrir em Fevereiro de 1962 o “velho” Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde, passando a ser encaminhados para aqui os prisioneiros cuja detenção era do domínio público nacional e até internacional e dos quais não eram fácil a polícia política “desembaraçar-se” sem que desse nas vistas. Muitas dezenas de angolanos foram por força das circunstâncias “transformados em trabalhadores” naquilo a que o Governo de Lisboa chamava de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, local insalubre, de mosquitos e febres, onde o feijão maconde era o companheiro permanente das fraquíssimas refeições. 
          Aleatoriamente recordamos os nomes de André Rodrigues Mingas, António Dias Cardoso, “Liceu” Vieira Dias, Ilídio Alves Machado, André Franco de Sousa, António Pedro Benge, Chipoia Magita, António Jacinto, Agostinho Mendes de Carvalho, “Beto” Van-Dúnem, Amadeu Amorim, Bernardo Loureiro, Nobre Freire Pereira Dias, Gabriel Leitão, Armindo Augusto Fortes, José Diogo, Justino Pinto de Andrade, Luandino Vieira, António Monteiro, César Teixeira “Cambilhosa”, Fernando Pascoal da Costa, Sebastião Gaspar Domingos, Adão Domingos Martins, Gilberto Saraiva de Carvalho, José Manuel Lisboa, Tito dos Santos, António José Capita, Manuel dos Santos Júnior, Manuel Pedro Pacavira, Pascoal de Carvalho Júnior “Candondo”, Jaime Gaspar Cohen, Eduardo Valentim, Alcino Borges, Francisco Caetano, Aldomiro da Conceição, Paiva Domingos da Silva, Alberto Correia Neto, Vicente Pinto de Andrade, Justino da Conceição, Belarmino Van-Dúnem, Bernardo Lopes Teixeira, Makiala e outros mais, quer angolanos quer naturais de outras colónias portuguesas, alguns dos quais morreram naquele antro de morte, 
          Quando a 1 de Maio de 1974, saíram do Campo do Tarrafal os últimos prisioneiros africanos, encerrando-se uma das mais negras páginas do colonialismo português.
                                                                                                                                  
                                                                                           Henrique Mota























Visita de S.E. Srº Embaixador da República de Angola, Srº Profº Drº José Marcos Barrica  e S.E. Srª Consul Geral da República de Angola em Lisboa, Srª Drª Cecilia Baptista ao Espaço Cultural e Gastronómico Angolano na Casa de Angola





... a cela é o lugar ideal para nos conhecermos a nós próprios, para aprofundarmos de forma realista e regular os processos da nossa mente e dos nossos sentimentos. Ao avaliarmos a nossa evolução equanto individuos tendemos a concentra-nos em factores externos como a posição social, o poder de influência e apopularidade, a riqueza e o nível de instrução. Estes são, de facto, factores importantes para a avaliação do sucesso individual no que se refere a aspectos materiais e é perfeitamente compreensível que muitas pessoas se empenhem em alcançá-los. Existem no entanto factores internos que podem ser ainda mais decisivos na avaliação de uma pessoa enquanto ser humano: a honestidade, a sinceridade, a simplicidade, a humildade, a generosidade, a ausência de vaidade, a disponibilidade para ajudar os outros - qualidades ao alcace de todas as almas - constituem os alicerces da vida espiritual de cada um de nós. A evolução em matérias desta natureza é impensável sem uma introspecção séria, sem nos conhermos a nós próprios, sem conhecermos as nossas fraquezas e os nossos erros. No mínimo, se não nos der mais nada, a cela proporciona-nos a oportunidade de analizarmos todos os dias a nossa conduta na sua globalidade, de ultrapassarmos o que de mau houver em nós e desenvolvermos o que possamos ter de bom. A meditação frequente, nem que seja  15 minutos por dia antes de adormecer, pode ser muito proveitosa a este respeito. No início pode parecer-nos difícil identificar os aspectos negativos da nossa vida, mas com perseverança este exercício poderá revelar-se altamente compensador. Não devemos esquecer que um santo é um pecador que não cessa de se esforçar.

 In Nelson Mandela  - Arquivo Íntimo - Excerto de uma carta a Winnie Mandela na prisão de Kroonstad com data de 1 de Fevereiro de 1975


"... Nas circunstâncias em que actualmente me encontro, pensar no passado pode ser de longe mais exigente do que contemplar o presente e prever o curso futuro dos acontecimentos. Até ser encarcerado nunca valorizei devidamente a capacidade da memória, a série infindável de informação que a nossa cabeça pode conter."

In Nelson Mandela - Arquivo Íntimo - Excerto de carta a Hilda Bernstein a 8 de Julho de 1985

" Apenas os políticos superficiais estão a salvo de cometer erros. Os erros são inerentes à acção política. Todos aqueles que estão no centro da luta política, que têm de lidar com problemas práticos e prementes, têm pouco tempo para reflexão e, sem precedentes que os guiem, é inevitável que muitas vezes comentam erros. Mas com o tempo, e desde que sejam flexíveis e estejam preparados para avaliar o seu trabalho com espírito crítico, adquirirão a experiência necessária e a capacidade de antecipação que lhes permitirá contornar as armadilhas comuns e escolher o caminho a seguir entre o pulsar dos acontecimentos."


In Nelson Mandela - Arquivo Íntimo - Excerto de manuscrito autobiográfico escrito na prisão e mantido inédito.

" A pilhagem das terras dos indígenas, a exploração dos seus recursos minerais e outras matérias-primas, o confinamento das populações indígenas a áreas específicas, e a restrição da sua liberdade de movimentos têm sido, com honrosas excepções, as pedras basilares do colonialismo em todas as partes do mundo."

In Nelson Mandela - Arquivo Íntimo - Excerto da sequela não publicada na sua autobiografia.

" Não subestimamos o inimigo. Em combates passados, em clara desvantagem face à superioridade dos adversários, ele foi capaz de se bater corajosamente e merecer a admiração de todos. Só que nessa altura tinha algo a defender - a sua independência. Agora as posições inverteram-se - eles são uma minoria de opressores amplamente suplantada em número no país e isolada no mundo inteiro. E o resultado do conflito será certamente diferente."

In Nelson Mandela - Arquivo Íntimo - Excerto do manuscrito autobiográfico escrito na prisão e mantido inédito